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Seções Temáticas

Teoria Marxista: uma Teoria das Revoluções

 

Em setembro de 1843 um jovem Karl Marx escreve a Arnold Ruge sobre a importância da tarefa que se põe diante deles: “os filósofos, até aqui, encontraram de suas escrivaninhas a solução para todos os enigmas, e o mundo, exotérico e estúpido, só tinha de abrir a boca para que os pombos-assados do conhecimento absoluto voassem para dentro. Agora a filosofia tornou-se mundana, e a prova mais marcante disso é que a própria consciência filosófica foi arrastada para o tormento da luta, não só externamente como, também, internamente. Mas se construir um futuro em que as coisas estejam estabelecidas para todo o sempre não é nossa tarefa, torna-se ainda mais claro aquilo que temos que realizar no presente: refiro-me à crítica implacável de tudo o que existe, e implacável tanto no sentido de não temer os resultados que atingirá quanto no sentido de, também, não temer em nada o conflito com os poderes constituídos”. Em 1845, rascunhando o primeiro capítulo de A Ideologia Alemã, Marx concluirá, no mesmo tom, as suas Teses Sobre Feuerbach: “os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”. Estranhamente, a maior parte da vida de Marx parece ser marcada por uma crítica permanente da ação dos grupos de esquerda de seu tempo (como vê-se, dentre outros, na Crítica ao Programa de Gotha). A impressão é a de que a ação política, quando não informada por uma reflexão profunda, muito facilmente deixa de atingir os objetivos pretendidos – é o caso daquele ditado que se tornou tão popular ao longo do século XX, acerca de uma “esquerda que faz o trabalho da direita”. Tais passagens, é claro, não podem ser tomadas separadamente da guinada teórica que assiste à publicação da Questão Judaica e da Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, esta última em que, em sua introdução, Marx dirá: “A arma da crítica não pode, é claro, substituir a crítica da arma, o poder material tem de ser derrubado pelo poder material, mas a teoria também se torna força material quando se apodera das massas”. De fato, o mergulho em profundidade em Hegel é o que possibilita à Marx delimitar, pelo menos a partir dos Manuscritos, o problema da dialética Hegeliana e apontar uma saída que cuide de afinar teoria e matéria: pois que, distintamente de Hegel, para Marx o movimento de negação próprio à dialética não deve conservar, como o faz o Aufhebung Hegeliano, aquilo que ele próprio cuida de superar; a dialética deve, antes, cuidar da produção do sujeito revolucionário, o proletariado, em que ela então se torna – uma teoria das revoluções. Esta seção temática está aberta a trabalhos de aprofundamento em teoria marxista e que pretendam dialogar com a teoria da Revolução em Marx.


 

Capitalismo, Complexidade e Ambiente

 

Por contraste com o “velho” pensamento científico newton-cartesiano (P1), que atravessa, transdisciplinarmente um dado “velho” conjunto de teorias, o “novo” – em construção – pensamento científico da complexidade (P2), atravessa do mesmo modo um “novo” conjunto de teorias. No presente Colóquio, dentro do horizonte do novo séc. XXI, vamos enfatizar, dentre outras abordagens interdisciplinares, o tipo de análise científica marxista da relação capitalismo-ambiente via P2. Já existe produção marxista nessa direção. Por exemplo, o filósofo marxista I. Meszaros (M) e o sociólogo para-marxista I. Wallerstein. Ambos focam particularmente crises do capitalismo, principalmente o que supõem ser uma crise terminal – em curso – do capitalismo, utilizando-se qualitativamente de uma das teorias atravessadas por P2, a “ciência da complexidade” de I. Prigogine (Prêmio Nobel de química, 1977), centrada na “termodinâmica longe do equilíbrio” (TLE) deste último cientista. Meszaros chega ao que ele denomina de quatro limites absolutos do capital, que estariam sendo atingidos simultaneamente, brecando, em linguagem prigogineana, qualquer válvula de escape sistêmica; um destes limites sendo o da destruição ambiental produzida pelo capitalismo. Wallerstein argumenta que a atual crise ambiental é parte de uma crise sistêmica que inevitavelmente terminará com o capitalismo antes do final do presente século, utilizando-se da “teoria das bifurcações”, dento da TLE, de Prigogine. Passando ao Brasil, atingimos recentemente (2015) um amadurecimento notável na relação capitalismo-complexidade-ambiente através de denso texto do Prof. Luiz Marques (“Capitalismo e colapso ambiental”, UNICAMP). Mesmo sendo um crítico severo da relação marxismo-ambiente, Marques argumenta, em termos percucientes, acerca da inapelável insustentabilidade ambiental do capitalismo. O Colóquio está aberto a outras abordagens que envolvam marxismo-ambiente (exemplos: “ecossocialismo”; Marx e ecologia) e capitalismo-ambiente (exemplo: 2006-2007: miniciclo “ambientalista” do capitalismo). E aberto à expressão de movimentos de lutas classistas e ambientalistas regionais (o Brasil já carrega mais uma vergonhosa “medalha de ouro”: é o país que mais mata ambientalistas no mundo em termos absolutos).


 

Marxismo e minorias para além de A Questão Judaica

 

A Questão Judaica – publicada na mesma época de redação da Crítica da Filosofia do Direito de Hegel – estabelece, em princípio, o problema da insuficiência revolucionária da emancipação política, restrita à disputa intestina do Estado, por se tratar da “revolução que deixa de pé os pilares do edifício”. Ora, se é este o seu limite, revela-se logo na partida o fundamento último de seu fracasso: enquanto se mantiverem os pilares do Estado burguês, a emancipação que importa – a humana – não pode ser, de fato, atingida. Por outro lado, o século XX e início do século XXI assistem a um acirramento da luta política, seja na esfera das liberdades e direitos civis, seja dos direitos coletivos e/ou difusos. A Revolução, no entanto, parece não só ter perdido espaço na agenda dos movimentos sociais, como também perdeu espaço em larga medida na cena acadêmica e teórica: arriscamos abandonar, desse modo, não só a crítica das armas, mas também a igualmente relevante arma da crítica. Assim, cabem as perguntas: as disputas das minorias por inclusão, se limitadas à esfera da luta política, e desde que não contenham um programa revolucionário no sentido forte do termo, são suficientes para nos conduzir à emancipação humana? Ou as disputas políticas não se reduzem, como dá a entender Marx em última instância, à luta de classes? A inclusão total, para além da total inclusão na desigualdade última, a da exploração capitalista, é possível no interior do Estado burguês?

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